Hugo de São Vítor: a fé é o navio seguro face ao naufrágio do mundo
“Todo este mundo é como um dilúvio, porque todas as coisas que estão neste mundo, à semelhança das águas, correm flutuando por eventos incertos.
“Já a verdadeira fé, que não promete coisas transitórias, mas eternas, levanta a alma como que de certas ondas, erguendo-a da cobiça deste mundo às coisas do alto; ela pode então ser levada pelas águas, mas não pode ser inteiramente submergida, porque este mundo pode ser usado devido à necessidade, mas não pode obrigar o afeto.
“Quem quer que, portanto, não crendo nas coisas eternas, somente apetece as que são transitórias, debate-se entre ondas como que sem navio, e o ímpeto das águas que correm o carregam consigo.
“Quem, porém, crendo nas eternas, ama as coisas transitórias, este é como aquele que naufragou perto de um navio.
“Já quem crê nos bens eternos e os ama, como que já colocado no navio, atravessa seguro as ondas do mar revolto.
“E se pelo desejo da fé não abandonar o navio, de certo modo, ainda que no meio das ondas, imita a estabilidade da terra”.
Hugo de São Vitor, “A substância do amor”, Inst. in Decalogum Legis Dominicae, C. 4, PL 176, 15-18; Miscelannea L. I C. 171, PL 177, 563-565.
Santo Estêvão de BOURGES
A catedral de Bourges, na França, está dedicada a Santo Estêvão, o primeiro mártir cristão. É considerada uma obra-prima da arquitetura gótica. Sua fachada tem 40 metros da largura sendo a maior nesse estilo.
A construção iniciou-se em 1195, praticamente ao mesmo tempo com a catedral de Chartres. O coro (parte atrás do altar mor) foi completado em 1214; a nave (a parte maior) em 1225. A fachada, mais rica e complicada foi terminada em 1250. O todo, que inclui torres e anexos, foi consagrado em 13 de maio de 1324.
Na fachada há 5 portas de acesso, uma para cada nave, e há mais 2 na metade dos lados. Cada porta tem esculturas notáveis, sendo a mais famosa a que ilustra o Juízo Final. Os vitrais da zona absidal são do século XIII. A iconografia reproduz eventos do Antigo Testamento, da vida de Jesus Cristo, do Apocalipse e da vida dos Santos.
A catedral da Santa Cruz e Santa Eulália, de Barcelona, Espanha, foi construída entre os séculos XIII e XV sobre antiga catedral românica, que repousava por sua vez sobre uma basílica paleocristã. A fachada neo-gótica é do século XIX.
Santa Eulália, patrona de Barcelona, donzela virgem e mártir, foi exposta nua no fórum romano, mas uma nevasca cobriu sua nudez. Os romanos enfurecidos a meteram num barril cheio de cacos de vidro e pregos que jogaram encosta abaixo.
A catedral também guarda o Santo Cristo de Lepanto: cruz da galera de Don Juan de Áustria, chefe da frota católica que esmagou os turcos na batalha de Lepanto em 1571.
O Cristo desviou para a direita esquivando uma canhonada muçulmana, e foi presságio da vitória que mudou a história.
O nome Remígio significa “pastor que combate” e apaziguador da terra. São Remígio lutou contra o diabo com o escudo da fé, a espada da palavra de Deus e a armadura da esperança.
Sua nascença foi predita por um ermitão cego. Desde cedo, Remígio abandonou o mundo e encerrou-se num claustro. Sua reputação crescia, e quando tinha 22 anos, foi aclamado pelo povo para ser arcebispo de Reims.
Naqueles tempos, Clóvis era rei da França. Ele era pagão. Porém, quando viu vir contra ele um exército incontável de alamanos, ele prometeu que adotaria a fé de Jesus Cristo se obtinha a vitória.
Ele venceu milagrosamente e pediu o batismo a São Remígio. Tendo-se aproximado todos da pia batismal, uma pomba trouxe no bico uma ampola com o óleo para ungir o rei. Esse óleo fica guardado na igreja de Reims até hoje.
São Remígio resplandecente de virtudes, repousou em paz no ano 500 do Senhor.
Catedral de Tours
Santo Agostinho: a beleza das coisas fala da beleza suprema de Deus Criador
“Interroga a beleza da terra,
“interroga a beleza do mar,
“interroga a beleza do ar difundida e diluída.
“Interroga a beleza do céu,
“interroga a ordem das estrelas,
“interroga o sol, que com o seu esplendor ilumina o dia;
“interroga a lua, que com o seu clarão modera as trevas da noite.
“Interroga os animais que se movem na água, que caminham na terra, que voam pelos ares:
“almas que se escondem, corpos que se mostram;
“visível que se faz guiar, invisível que guia.
“Interroga-os!
“Todos te responderão:
“Olha-nos, somos belos!
“A sua beleza fá-los conhecer.
“Quem foi que criou esta beleza mutável, a não ser a Beleza Imutável?”
No contexto medieval dos séculos XI e XII, as escolas monásticas e episcopais sediavam grandes escolas de teologia.
Essas escolas procuraram explicitar a fundo a ordem posta por Deus na Criação para a Sua maior glória. A ordem do universo contida na Bíblia foi cotejada com os ensinamentos aproveitáveis dos gênios gregos e romanos da antiguidade.
O estudo, a contemplação, a meditação e a oração permitiram aos mestres espirituais medievais atingir um conhecimento profundamente raciocinado da grandiosidade e do simbolismo da glória de Deus e da Igreja, impressos na imensa catedral divina que é o Universo.
O gótico nasceu como sendo o estilo mais adequado para exprimir a fisionomia com que Deus que Se faz conhecer na Criação.
Por isso a catedral, que já era a casa de Deus por excelência, tinha que conter em si, embora em miniatura, a majestosa ordenação espiritual, metafísica e material de toda a estrutura e de toda a beleza do criado.
Na hora de reconstruir a abadia real de Saint-Denis, hoje na periferia de Paris, o abade beneditino Suger vivificou a primeira catedral gótica.
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs
O estilo gótico nasceu e cresceu dando passos aparentemente pequenos, até gerar um conjunto monumental como nenhum outro na História da Civilização.
Nenhum estilo histórico é uma produção de gabinete, mas é obra de uma sociedade inteira.
Os artistas não são os criadores do estilo usado por uma sociedade, mas seus intérpretes.
E isto é especialmente verdadeiro do estilo gótico ou medieval.
Nesse estilo produzido pela sociedade medieval, o prático e o belo, os elementos materiais e intelectuais se fundiram harmonicamente com a fé católica professada pela sociedade.
Do ponto de vista arquitetônico que foi tão decisivo, o estilo gótico tem como elemento característico a chamada ogiva gótica.
Segundo a tradição, num sonho, São Pedro e São Paulo teriam aparecido a um velho abade beneditino de nome Gunzo, que foi terminar seus dias na abadia de Cluny. Os santos lhe ensinaram a ogiva, que depois se chamou gótica.
O sonho do abade Gunzo que inspirou o arco gótico
na abadia de Cluny III. Miscellanea secundum usum ordinis Cluniacensis
O velho monge narrou o sonho ao abade São Hugo. Na época, por volta de 1080 d. C., Cluny estava construindo sua terceira grande igreja abacial, dedicada a São Pedro.
Ela foi a maior igreja da Cristandade até a construção da Basílica de São Pedro, no Vaticano, feita um metro maior, para afirmar assim sua superioridade universal.
O monge Gunzo era cego, mas seu testemunho foi considerado fidedigno e convincente. A parte final da nave de Cluny foi concluída no novo estilo ogival.
O exemplo de Cluny pegou fogo em toda a Europa. Construir catedrais foi um fenômeno correlato às Cruzadas. O mesmo fervor animava os cavaleiros e os arquitetos.
O movimento se expandiu a partir da França em meados do século XII.
É por isso que na época medieval o estilo gótico era referido como art français, francigenum opus (trabalho francês) ou opus modernum (trabalho moderno).
O termo gótico foi cunhado pelo historiador renascentista da arte Giorgio Vasari (1511 —1574).
Para Vasari e seus colegas naturalistas, admiradores da arte pagã da Antiguidade, a arte da Idade Média, especialmente a arquitetura, era objeto de horror. Eles a consideravam o oposto da perfeição, o símbolo do obscuro e do negativo que o catolicismo havia inoculado nas massas.
O século XIX recuperou o estilo gótico.
E deu o neogótico.
Catedral St Patrick, de New York
Vasari atribuiu esse horror aos godos, povo que destruiu a Roma Antiga em 410. E inventou o termo gótico, com fortes conotações pejorativas. Ele quis designar um estilo digno apenas de bárbaros e vândalos.
No século XIX essa manipulação foi posta de lado. O gótico voltou a ser valorizado como merecia. Poetas como Goethe ficaram fascinados pela imponência das grandes catedrais góticas na Alemanha. Literatos como Victor Hugo empolgavam seus leitores com os relatos dos monumentos medievais.
Restauradores como Viollet-le-Duc se engajaram em hercúleos trabalhos, ainda em andamento, para restaurar catedrais, abadias, castelos, palácios e outras obras insignes.
Chefes de Estado como o Kaiser da Alemanha, Luís II da Baviera, Napoleão III ou a rainha Victória promoveram essas fabulosas restaurações ou até novas realizações em estilo medieval. O Parlamento de Londres e o Big Ben são um exemplo acabado da arte gótica.
A restauração do gótico ficou associada ao movimento contrarrevolucionário do século XIX.
E onde não havia catedral gótica para restaurar, os católicos se punham a erigir novas: St. Patrick, em Nova York, a catedral de São Paulo, ou as basílicas de Luján, na Argentina, e de Las Lajas, na Colômbia, para dar alguns exemplos.
Nesse momento nasceu o neogótico, marcado pelos elementos decorativos ogivais.
Cluny "alma da Idade Média" (reconstituição virtual)
York: fachada principal Luis Dufaur Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de ...
Vitral da catedral de Laon
Catedral de York, Inglaterra
A Catedral de York é a maior catedral de estilo gótico do norte europeu, localizada na cidade de York, Inglaterra.
A primeira igreja no local foi construída às pressas em 627 para o batismo de Eduíno, rei da Nortúmbria. Uma estrutura de pedra foi completada em 637 e foi dedicada a São Pedro.
Em 741, a igreja foi destruída por um incêndio e reconstruída como uma estrutura ainda mais impressionante, contendo trinta altares.
Houve uma série de arcebispos beneditinos, incluindo Santo Osvaldo, São Wulfstan e São Ealdred.
O arcebispo Walter de Gray ordenou a construção de uma estrutura em estilo gótico que se comparasse à Catedral de Cantuária.
A catedral de York um dos polos religiosos e culturais da Inglaterra católica foi completada e consagrada em 1472.
A Reforma Protestante saqueou grande parte dos tesouros dela e roubou grande parte das terras da arquidiocese.
Elizabeth I tentou remover todos os traços da Igreja Católica Apostólica Romana da catedral com muitas destruições de túmulos, janelas e altares.
Nos séculos XIX e XX foi feito um trabalho de restauração que continua até os presentes dias.