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quarta-feira, 7 de junho de 2017

Sob a aparente fantasia: poderosa sabedoria, síntese do universo

Ambulatório da catedral de Amiens, Foto David Iliff License CC-BY-SA 3 0
Ambulatório da catedral de Amiens.
Foto: David Iliff License CC-BY-SA 3 0
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





A nossa época, que se desembaraçou dos últimos restos de preconceitos clássicos, e na qual a influência dos dogmas da antiguidade é já nula, está em melhor posição do que qualquer outra para penetrar a arte da Idade Média.

Não passaria hoje pela cabeça de ninguém indignar-se com os camelos verdes do Psautier de Saint-Louis (Saltério de São Luís), e os artistas modernos fizeram-nos compreender que, para dar uma impressão de harmonia, a obra de arte deve ter em conta a geometria, e a decoração submeter-se à arquitetura.

Podemos redescobrir a arte medieval mais facilmente do que a literatura do mesmo tempo, pois podemos desfrutá-la diretamente.

Aprendemos a percorrer pedra por pedra, nas nossas catedrais e nos nossos museus, os seus vestígios dispersos pela Europa.

Os progressos da técnica fotográfica permitem-nos dar a conhecer as maravilhas das miniaturas inseridas nos manuscritos, que até aqui só alguns iniciados podiam apreciar.

Chega-se a restituir mesmo as suas cores, com rara fidelidade, o que se pode confirmar nas admiráveis publicações da revista Verve, as das Éditions du Chêne ou de Cluny, etc.

O que sobressai mais nitidamente na arte medieval é o seu caráter sintético.

Criações, cenas, personagens, monumentos, parecem ter surgido de um só jato, tal é o seu frêmito de vida, tão forte a expressão do sentimento ou da ação que pretendem traduzir.



Iluminura representando São Pedro e São Paulo recebendo as almas dos monges na porta do Céu, Plimpton MS 040A, f1
Iluminura representando São Pedro e São Paulo recebendo as almas dos monges
na porta do Céu, Plimpton MS 040A, f1
Toda a obra, nessa época, é à sua maneira uma Somme — unidade poderosa, mas na qual, sob a aparente fantasia, entram em jogo uma multiplicidade de elementos sabiamente subordinados uns aos outros.

A sua força provém, antes do mais, da ordem que presidiu à sua realização. A arte, mais do que o gênio, é então a recompensa de uma longa paciência.

Contrariamente ao que poderia fazer crer a fantasia que parece presidir às suas soluções, o artista está longe de ser livre, obedece a obrigações de ordem exterior e de ordem técnica que regem, ponto por ponto, as etapas da sua obra.

A Idade Média ignora a arte pela arte, e na época a utilidade domina todas as criações.

É dessa utilidade, aliás, que as obras tiram a sua principal beleza, consistindo numa perfeita harmonia entre o objeto e o fim para o qual foi concebido.

Capela do Colégio Universitário de Exeter, Inglaterra
Capela do Colégio Universitário de Exeter, Inglaterra
Neste sentido, os objetos mais comuns nessa época aparecem-nos agora revestidos de uma autêntica beleza: um jarro, um caldeiro, uma taça, aos quais damos hoje honras de museu, as mais das vezes não possuem outro mérito senão o dessa perfeita adaptação às necessidades para as quais existem.

Noutro plano, o artista medieval preocupava-se acima de tudo com a razão de ser das suas criações. 

Uma igreja é um local de oração, e se a arquitetura das nossas catedrais variou de acordo com as épocas e com as províncias, é porque estava estreitamente ligada às necessidades do culto local.

Não há uma capela, um vitral que tenham sido colocados sem motivo ou acrescentados por pura fantasia.


(Autor: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge”, Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944)




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